quinta-feira, 2 de julho de 2009

Azamor em Vila Boim


Conhece Vila Boim? Próximo de Elvas, no limite do concelho de Vila Viçosa, para os lados da famosa Quinta da Terrugem, quase-quase Espanha? Conhece? Pois bem, nós não conhecíamos e só ficámos a par da sua existência quando por ela passámos (e voltámos a passar, pois não usamos senão um mapa e é antigo...) antes de entrar numa longa picada em direcção ao Monte do Rego, casa de Allison e Joaquim Luiz Gomes, sede e alma dos tintos Azamor.
A vinha, toda tinta, foi plantada já no início do novo século em compasso apertado à moda francesa, mas foi preciso que alguns anos passassem para que as plantas ganhassem porte. Adega moderna, de dimensão apropriada ao projecto (coisa que vem sendo rara em Portugal tanta é a mania das grandezas), sala de pipas com temperatura controlada, consultadoria de David Baverstock (mais conhecido pelo trabalho no Esporão, além de outros, mais vetustos, no Douro) e parcerias pontuais com outros enólogos australianos. Allison e Joaquim têm hoje uma gama séria de bons tintos, todos eles sedutores nas matizes frutadas e acetinados na boca. O conceito é de "distinctive boutique wines" pelo que nem sempre será fácil encontrar os produtos Azamor (em Lisboa, tente nas "Coisas do Arco do Vinho" no CCB).
A gama começa então com o Azamor tinto, um vinho capaz, moderno e com muita capacidade de atracção, com destaque para as últimas colheitas, de 2006 e 2007 (este provado em "cask sample"). Temos depois, num salto qualitativo significativo, a referência Selected Vines, lotes maioritariamente compostos de Syrah, tintos sensuais que aliam, de forma terrivelmente eficaz, potência a fruta em camadas. Das várias colheitas ficámos impressionados com a de 2005, um vinho que desperta os sentidos mais hedonísticos.
Depois, a curiosidade (cada vez mais presente em terras alentejanas) da casta francesa petit verdot, a solo num monovarietal necessariamente mais vegetal e enigmático que os "irmãos", mas igualmente eficaz na hora de dar prazer. Por fim, temos um topo de gama, denominado de Icon, por enquanto apenas na colheita de 2004, um vinho fresco, complexo em cambiantes minerais e com longo final de boca, sem dúvida o vinho menos “modernaço” de toda a gama; sem dúvida, o nosso predilecto.
Dos vinhos Azamor, sobretudo dois merecem destaque e a eles já nos referimos: ao Azamor Selected Vines 2005, e ao Icon 2004, com diferentes possibilidades de harmonizações gastronómicas. O primeiro servirá certamente bem para emparelhar pratos de carne condimentados e intensos, como o divinal leitão lechal preparado em forno de pão que comemos no local. Já o segundo exige maiores cuidados, deverá ser pensado para acompanhar especialidades mais subtis e de sabor mais complexo.
É claro que, a par do wine paring, o preço é deveras importante na hora de decidir qual botelha levar para casa. Uma vez que o Icon (a 45€) custa o triplo do Selected Vines (a 15€), a nossa recomendação tem de seguir para este último.

Sem comentários: