terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Terça-feira Gorda

O Carnaval, para mim, não é a celebração das máscaras, dos bailes, dos corsos, dos foliões, das brincadeiras ou da alegria, nada disso. Na verdade, na nossa tradição cristã, muito mais importante do que isso, o Carnaval é a despedida (temporária) da “carne” – o último tempo em que, antes da Páscoa, a “carne” “vale”.
É, pois, fundamental assinalar com “pompa e circunstância”, o fim do primeiro período de abundância gastronómica – que terá o interregno da Quaresma – e que só será retomado, na sua plenitude, com a celebração da Ressurreição de Cristo.
As refeições de Terça-Feira Gorda devem ser, assim, constituídas por pratos fortes, ricos em substância e capazes de alimentar as gentes durante o deserto quaresmal.
Em minha casa (como, penso, em muitos outros lares portugueses), o almoço de Terça-Feira Gorda costuma ser de cozido (à portuguesa, naturalmente), com os melhores enchidos (farinheiras, chouriços, morcelas, linguiças, paios, presunto), carnes de três origens (vaca, porco, aves), couve e cenoura cozida, arroz branco, feijão e muito caldo.


As tradições também mudam e, este ano, a despedida da carne é feita sem carne. Por sorte do acaso, abundância da safra e escolha unânime dos comensais, a Terça-Feira Gorda é, desta vez, assinalada com lampreia (o meu avô João comia-a sempre na 4.ª Feira de cinzas, com a desculpa piedosa de que o “ciclóstomo” era seguramente mais peixe que carne)…
Não sei se a escolha é muito “ortodoxa” mas parece-me que preenche todos os fundamentais propósitos da efeméride.
Venha ela!

1 comentário:

Miguel Poiares Maduro disse...

Rafael,

Eu por mim prefiro o cozido (confesso que não pertenço aquele grupo de "aficionados" de lampreia que vão até ao fim do mundo para as comer). Agora um bom cozido... E, cá para mim, cozido é comida de casa e de familia. É aquele tipo de prato que nunca há nenhum restaurante que faça um como o da nossa mãe!
Miguel