terça-feira, 30 de junho de 2009

Geranium




Estive, no último fim-de-semana, em Copenhaga e venho absolutamente fascinado com a afabilidade, a descontração e a qualidade de vida dos Dinamarqueses. Poucas cidades da Europa respiram um "savoir vivre" tão forte, marcado por um belíssimo equilíbrio entre a liberdade individual e o respeito pela coisa pública: tudo parece feito para ser usufruído, com civismo e sem excessos de controlo e regulação.
A gastronomia que pude experimentar evidencia, precisamente, um objectivo misto: ambicioso na procura de um resultado artisticamente conseguido mas, simultânea e paradoxalmente, muito apontado, de forma "epicurista" e despretensiosa, à satisfacção do cliente.
Foi isso que encontrei no Geranium (feliz sugestão que recebi do Concierge do meu hotel, por não ter conseguido marcar mesa no já famosíssimo Noma). Este restaurante fica situado nos Jardins do Rei (Kongens Have), junto Palácio de Rosenborg, estando instalado num edifício de madeira que terá sido outrora pavilhão de caça do Rei e - dizem as "más-línguas" - lugar de encontro com as suas amantes. O ambiente é muito descontraído, com uma decoração simples, minimalista mas muito confortável.
A cozinha está a cargo de dois jovens e premiados chefes dinamarqueses (Rasmus Kofoed e Soren Ledet), que estiveram presentes durante a refeição, partilhando com a sala a responsabilidade de apresentar os vários pratos constantes do menu, numa atitude de grande simpatia e familiaridade.
A nossa escolha recaiu sobre uma versão simplificada do menu degustação ("our smaller menu") que compreendia, para além dos "amuse bouche" e de um fantástico "abre-palato" (espuma de maçã com essência de gerânio), quatro pratos: (i) camarões da Gronelândia com pepino e funcho, (ii) vieiras e beterraba com queijo fresco fumado e rábano, (iii) batatas novas com rebentos de ervilha, levístico (aipo-do-monte?) e pickles de sabugueiro e (iv) cordeiro do Knuthenlund, com espargos, pão frito e morangos verdes (na fotografia).
Para terminar, uma deliciosa sobremesa, designada "Ilusão da Floresta", feita com gelado de azedas, aspérula-odorífera (gallium) e raspas de chocolate.
Foi, realmente, um jantar inesquecível!
Tanto que a única estrela michelin e a posição 77 na classificação dos melhores restaurantes do mundo em 2009 (S.Pellegrino) me pareceram, francamente, distinções curtas para um resultado tão bom...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

100 maneiras sem "peneiras"

Fui ontem, pela primeira vez, ao renovado "100 maneiras" de Ljubomir Stanisic, na Rua do Teixeira, ao Bairro Alto.
Confesso que as memórias que tinha da sua casa de Cascais não eram as melhores. Das duas vezes que lá fui, achei que o restaurante tinha grandes ambições mas o resultado final ficava muito aquém do enorme talento do seu chef. Lembro-me de me sentir "abandonado", numa mesa que parecia saída de um "stand de decoração", onde - de quando em quando e quase que por misericórdia - nos vinham servir algo para comer ...
Ontem, contudo, assisti a uma justa "redenção" do chefe que, de acordo com o que li algures, ainda gosta de se intitular de "jugoslavo".
Com efeito, o "desastre" de Cascais parece ter tirado a Stanisic todas as "pretensões", tendo apontado o seu novo "100 maneiras" para um conceito mais simples, mais barato, menos arriscado e, em minha opinião, muito mais conseguido.
O menu degustação que nos serviram pareceu-me muito equilibrado, com pratos variados e bem confeccionados (apresentação, condimento e ponto) e, se é verdade que a refeição não marca por um encantamento permanente e memorável (num ou noutro dos pratos sente-se até algum excesso de comedimento ou falta de atrevimento...), alguns pratos surpreendem muitíssimo bem (o estendal de bacalhau desidratado ao "pil-pil", que consta da fotografia, encheu-me as medidas) e o resultado final é, quanto à sequência e ao conjunto, muitíssimo agradável. O serviço foi fluente e simpático e os preços não são exorbitantes.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

"Sardinistas"

À porta das festividades ligadas aos Santos Populares, em que a sardinha assada é rainha, achei graça a este artigo do Washington Post, sobre um movimento de californianos que, por razões económicas, ambientais e de saúde, quer reintroduzir (reinventando?) a sardinha (em conserva) na dieta alimentar da Califórnia. A postura é tão racionalista e engajada que, aceitando-se os motivos ecológicos da promoção do consumo de sardinhas, se chega até a fazer no subtítulo do artigo a seguinte (sacrílega) pergunta "They're eco-friendly. But can they be tasty?"
Sempre me senti um "Sardinista" mas continuo a achar que a primeira e mais importante razão para comer sardinhas é o seu (fantástico, inesquecível, único) SABOR!